Ninguém gosta da pobreza muito menos apóia desigualdades, mas é graças à
existência de tais misérias em nossas sociedades que uns podem acumular
mais que os outros. Gandhi alertou que existem recursos no planeta para
todos, mas não para a ganância de uns poucos e que a paz é fruto da
justiça.
Paulo Freire afirmava que o grande papel da educação deveria ser o de
libertar as pessoas da escravidão do consumismo. Entretanto, somos
estimulados o tempo todo, desde criancinhas, e por todos os meios a
consumir sem parar! Ao invés de tentarmos nos libertar, ou de
questionarmos este modelo, queremos consumir mais e mais, num padrão tão
elevado quanto o dos ricos e famosos, incensados pela mídia para que os
tomemos como modelo a serem seguidos e invejados.
Os shoppings tornaram-se templos de consumo do deus Mercado, verdadeiras
ilhas da fantasia onde até o ar que se respira tem a temperatura
controlada. A moda, a propaganda e a informação - comprometidas com este
modelo - são os principais carros-chefe dessa nova religião e cumprem o
papel de dar velocidade e legitimidade ao consumo, criando novos
desejos e necessidades, tornando o novo já ultrapassado e obsoleto assim
que o consumidor sair da loja.
Somos levados a confundir a posse de bens com felicidade e
reconhecimento social, e a nos avaliarmos não pelo que somos, mas pelo
que possuímos. Somos induzidos a consumir não por que precisamos, mas
por que merecemos, desejamos, podemos. A falta de dinheiro, que deveria
funcionar com um limitador, é superada rapidamente pelo crédito fácil e
prestações a perder de vista que beiram a irresponsabilidade. Os
consumidores acabam escravizados às suas dívidas, obrigando-se a
dedicarem as melhores horas de suas vidas ao trabalho, para gerar os
excedentes que os permitam pagar suas dívidas e adquirirem logo novas
modernidades muitas das vezes nem tão necessárias assim.
O tempo passou a ser o bem mais precioso e as pessoas passaram a
dedicá-lo quase todo ao trabalho e mal conseguem ter tempo para elas
próprias, para suas famílias, para cultivar uma arte, um esporte, um
lazer, ler um livro, ouvir uma música, dançar, reunir com os amigos.
Tendemos a passar mais tempo com os colegas do trabalho que com nossa
família, filhos ou a pessoa amada. Não temos mais tempo para comer com
calma, e comer virou uma forma de tentar preencher o vazio e a
ansiedade. As cidades estão cada vez mais cheias de gente solitária que
tentam preencher este vazio com mais consumo.
Entretanto, enquanto uns perdem a liberdade, outros perdem a vida. O
desemprego está entre um dos principais motivos para os suicídios, por
que, numa sociedade de consumo, pessoas que não conseguem ganhar
dinheiro, sentem-se um peso para as demais. Pessoas depressivas e
solitárias também se matam diante das frustrações ao descobrirem que a
posse de bens de consumo e de riquezas não se converteu nas prometidas
felicidade, prazer e reconhecimento social. A própria vida humana perde
importância, já que só é importante o que tem preço e não o que tem
valor. E como a vida não tem preço, então, não interessa para o negócio.
Vidas fora do mercado não interessam, por que são vistas como uma
espécie de peso para os demais. Estão neste rol os aposentados, as
crianças, os inválidos, os desempregados. Por isso não se deve tratar
como casos isolados quando jovens bem nascidos, com boa formação, que
têm de tudo, não conseguem perceber o que pode haver de mal em queimar
mendigos, surrar prostitutas ou matar os pais e avós que lhes negam
dinheiro para comprar drogas. Para nosso horror e infelicidade, são
demonstrações de uma sociedade doente, e pior, que não quer se tratar
por que sequer reconhece o problema.
A tarefa de educar os filhos acabou transferida para os professores e as
empregadas domésticas - quando existem-, e confia-se cada vez mais na
babá-televisão e mais recentemente na babá-videogame para entreter e
compensar as crianças pela ausência dos pais. Alguns pais tentam
administrar os filhos e a vida doméstica através do celular, e é comum
trocarem o afeto e a presença por brinquedos, mesada em dinheiro,
presentes, que poderão acabar corrompendo o espírito das crianças
transformando-as em consumidoras vorazes no futuro como forma de tentar
superar frustrações e tristezas.
Cada vez mais as pessoas estão sendo levadas a perseguir um modelo de
consumo inalcançável e que só fará manter os pobres mais pobres e
escravizados à necessidade de trabalhar sem descanso a vida toda,
deixando atrás de si famílias desestruturadas, pessoas ansiosas, e um
planeta arrasado.
Postado Por: Victor Albino Bolorino de Carvalho
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